Na dinâmica da mensagem ou na
filosofia de vida do simples filho do carpinteiro, Jesus de Nazaré, há mais de
dois mil anos atrás; ao filósofo alemão Jungen Habermas da Escola de Frankfurt
na modernidade, os processos de entendimento passam pela comunicação.
“No principio era o verbo”(Jo 1.1),
parece indicar que o principio de tudo é a palavra, a expressão oral do
conhecimento, dos sentimentos mais profundos do ser humano, são expressados
pela fala.
Quando ainda
criança, aos doze anos, Jesus encanta os doutores da lei do seu tempo, dentro
do Templo em Jerusalém. “ Depois de três
dias, o encontraram no templo, sentando entre os mestres, ouvindo-os e
fazendo-lhes perguntas. Todos aqueles que ouviam o menino ficavam maravilhados
com sua inteligência e suas respostas” (Lc 2.46-47). O saber
filosófico/teológico está no ouvir e no falar. Foi através de um diálogo franco
na casa de Zaqueu, que este reconheceu a Jesus que havia enriquecido de forma
ilícita que queria restituir os lesados:
“ Senhor, a metade dos meus bens darei aos pobres, e se prejudiquei alguém, vou
devolver quatro vezes mais” (Lc 19.8). A narração nos mostra que o diálogo
franco através da verdade, tem o poder de fazer com que aconteça o reconhecimento.
Jesus trava um
diálogo com uma mulher samaritana a beira de um poço de água. Essa mulher fica
incrédula diante de tal atitude pois segundo relatos, “os judeus não se relacionam com os samaritanos[..] Nisto chegaram os
discípulos e ficaram admirados ao ver Jesus conversando com uma mulher”(Jo
4.9.27). É através do diálogo que se consegue restabelecer relações ora
cortadas por anos, décadas e até séculos. As desavenças podem perpetuar-se no
tempo, passando de geração em geração. Pequenas ofensas já são necessárias para
que o ser humano puxe o gatilho da agressividade.
Não há como
haver transformações quando alguém se considera ou está acima do outro. Na
época de Jesus a mulher era um ser inferior, um ser considerado inpensante, que
aparece nas estatísticas em segundo plano. Dialogar com uma mulher era algo
depreciador. Jesus quebra esse paradigma cultural.
Em outra oportunidade “ Jesus entrou num povoado, e uma mulher,
de nome Marta, o recebeu em sua casa. Ela tinha uma irmã, Maria, a qual se
sentou aos pés do Senhor e escutava sua palavra” (Lc 10. 38). O Mestre
nunca perde a oportunidade para dialogar com as pessoas. Suas atitudes foram
sempre tolerantes. Defendeu o principio da dignidade da pessoa humana, a
liberdade e a justiça. Não encontramos relatos bíblicos de intolerância, seja
ela religiosa ou social. Admirou-se com aqueles que pensavam e agiam diferente que ele, no caso do Centurião Romano
(Mt 8.5-7).
O
diálogo tolerante foi a principal marca desse judeu que mudou a história da humanidade.
Acreditou que a partir da comunicação entre as pessoas poderia se criar um
ambiente de entendimento. Para comunicar, segundo a proposta de Jesus, é
preciso descer do pedestal da opulência, das verdades e das certezas jurídicas.
É preciso reclinar a cabeça diante daquilo que o outro tem para dizer e ter a
grandeza de se fazer ouvir com atitude de escuta, para poder assim tornar-se um
pouco do outro e estabelecer a conexão com o outro. É um colocar-se um pouco no
lugar do outro.
Como
Jesus se distanciou dos pressupostos formais da época, Habermas através da
Teoria da Ação Comunicativa, entende que a ação instrumental não é suficiente
para resolver os conflitos sociais. Para Habermas o conflito pode ser o fio
condutor para que as partes, através da comunicação tenham a chance de um
aproximar-se em si mesmas e em relação a outra.
Para
ele, o individuo torna-se um ente participativo no processo da construção
social, inclusive na tomada de decisões quando os interesses são antagônicos.
Através da linguagem, o ser humano terá a grande oportunidade de retomar o
direito de construir o caminho para a solução do conflito, que um dia o Estado
lhe suprimiu.
A
construção de uma cultura de paz requer uma tomada de ação em conjunto, indo do
individuo ao coletivo. Essa mudança acontecerá quando os entes envolvidos
tornam-se protagonistas do evento e não simples telespectadores que acolhem uma
decisão produzida a partir de um juízo de valor emitido por um terceiro. Como
sabemos, quase sempre sairá, nesse caso, um perdedor e um ganhador.
O
mundo moderno requer simplicidade e eficiência. Habermas consegue compreender
essa necessidade na pessoa humana, que deverá encontrar o caminho do
entendimento a partir do diálogo simples e prático. O positivismo jurídico trás
certeza jurídica, mas nem sempre no tempo certo.
Seja
em Jesus ou em Habermas, encontraremos sempre o diálogo como pressuposto básico
para se construir uma sociedade mais justa. O opressor é contra o diálogo e a
construção do mesmo pelas partes. As vontades não são construídas, mas impostas
pelas formalidades, não importando muitas vezes questões de tempo e espaço. A
sociedade será diferente quando oportunizar a todos o direito e as formas ideais
de comunicação construtiva. Comunicar-se é o grande dom do ser humano. Devemos
aperfeiçoar a comunicação, para que ela se torne a grande condutora da justiça
e da paz social.
Postado por: ENIO FELIPIN
Formado em Direito pela Unijui e
Mestre em Direito pela URI- Santo Ângelo. Membro do Grupo de Pesquisa Mediação de Conflitos e Justiça Restaurativa
da URI, coordenado pelo professor Mauro Gaglietti.
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